A quarentena me coloca numa situação que a tempo não estava, que é ter um pouco de tempo pra escrever, ou melhor, parar, refletir e escrever. No ritmo atual de trabalho a reflexão pra mim é um luxo. Quero dizer que as condições nas quais trabalho não são bem favoráveis a reflexão porque estou na operação o tempo todo. Às vezes, o pensamento acende, a reflexão começa, mas depois se vai. Não faço registro e a correria recomeça. Se hoje, a quarentena mudou meu ritmo de vida, então vou aproveitar melhor o tempo que disponho pra fazer algo que me desperta prazer e ajuda: escrever. Quem sabe consiga fazer dessa quarentena um capítulo diferente, ou especial do meu caminho. Afinal, esse não está escrito.
As pessoas se expressam de várias formas. Cada uma naquela que lhe é mais cara, ou que se sente mais livre ou que lhe é mais adequada para o momento. Neste instante, e como em outros, também, eu me expresso pela palavra. Quero dizer que a escrita é minha experiência mais intensa de liberdade. Podemos conhecer o outro pela música que gosta, pela roupa que veste, pela comida que come, pelo livro que lê e por aquilo que escreve. Escrever além de me dar sensação de liberdade, faz com que eu me conheça mais e melhor. É terapêutico, mesmo, pra mim. E assim, cada um vai encontrando, construindo, descobrindo o seu caminho e o seu jeito de viver neste mundo. O meu jeito é escrevendo. Acho que é por isso que gosto da reflexão do Rilke sobre o ato de escrever. Negar esse ato é como receber a morte. Escrever é dizer pra mim mesmo que eu vivo e que existo. Ouse escrever de si mesmo, pintar de si mesmo, cantar de si mesmo. Ouse parar, acalmar, sentir e perceber o que está acontecendo.
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