A escrita de si

 "O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção". - Rubem Alves

  Enfrentar a realidade, às vezes, desperta um profundo sofrimento em nós. Um sofrimento tão grande e intenso que se pudéssemos diríamos não, ou melhor, não diríamos nada. Negaríamos tamanha dor. Jesus, nosso mestre, enfrentou a realidade do sofrimento. A narrativa da sua vida nos conta que no episódio do Horto das Oliveiras, em profundo sofrimento, ele falou: “Pai, se possível afasta de mim esse cálice (Mt 26, 39)”. Será o cálice da realidade? Será o cálice do que Ele gostaria que fosse diferente e não era? Ou seja, o cálice de viver o sofrimento sem poder fazer nada para modificar a realidade vivida e sentida na pele? Por vezes, também, nós desejamos, queremos e falamos a mesma coisa e pedimos o afastamento da realidade que nos desperta angústia, dor, tristeza e lágrimas. Nesse momento, o mistério da paixão do Senhor ilumina a nossa paixão. O mistério de sua acolhida da realidade e sua resposta ao sofrimento ao dizer: “Pai, contudo, não o que eu quero, mas o que tu queres sej...

  Existem diferentes caminhos para o conhecimento de si, autocuidado e investigação de como a gente funciona. Eu escolhi o caminho da filosofia, da espiritualidade e da psicanálise. Todos os caminhos são convergentes e terapêuticos. Ocupa-te de escolheres um caminho e percorrê-lo com honestidade. Na filosofia Sócrates diz “Conhece a ti mesmo”, na espiritualidade Santo Agostinho de Hipona diz: “Ó Deus, tu me conheces, faze que eu te conheça, como sou por ti conhecido” e na psicanálise Freud afirma, novamente, o mesmo: “Olhe para dentro, para as suas profundezas. Aprenda primeiro a se conhecer”.

 Às vezes não abordamos algumas questões não é porque não temos interesse, mas sim porque não temos estrutura mental pra suportar a realidade dos fatos. Cada um de nós é afetado de uma maneira pelas coisas, pelos acontecimentos. E se a gente for conversar sobre essas coisas que nos afetam intensamente, sem termos estrutura mental pra isso, o que pode acontecer é a gente surtar. Sim, a gente surta quando não suportamos a realidade, ou seja, a gente fica "fora" de nós mesmos. Por isso, é necessário respeito, amor, cuidado, paciência e compaixão com a gente e com o próximo. Afinal , o outro também tem suas questões que lhe afetam a alma despertando um grande sofrimento.  Ou a gente suporta a realidade ou a gente nega essa realidade pra proteger nossa mente ou a gente acolhe essa realidade sem condição de suportar e surta.

Ao adoecer, a gente aprende que o problema dos outros é dos outros. É o ápice do absurdo: perder saúde ou bem estar por causa do outro. A questão não é sobre o outro, é sobre você. A alma experimenta alívio quando desabafa. O coração comprimido ganha ar e oxigênio de novo quando fala e divide com o outro a dor que aflige. O que a gente aprende no APH a gente deveria e deve aplicar com a gente mesmo. Os primeiros socorros emocionais, mentais. A imagem de ressuscitar a pessoa bombeando o coração, fazendo a massagem cardíaca é a imagem de ressuscitar a nossa alma, o esforço de levar oxigênio pra nossos dramas e aflições e aliviar. O oxigênio alivia e restaura a força e a energia do corpo e da mente. Qual é o procedimento a ser feito no restauro do equilíbrio mental numa emergência? Numa situação de parada da mente? Oração: Nesse instante eu não quero me colocar no lugar do outro e de ninguém. Nesse momento eu quero ocupar o meu lugar e praticar empatia comigo mesma. Agora estou ...

Os primeiros socorros é uma experiência semelhante à experiência do bom samaritano contada por Jesus... “E quem é o meu próximo?” Jesus então contou: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual desses três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?”. Respondeu o doutor: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Entã...

"O que posso fazer por mim?" Essa frase é um imperativo para mim. Não é egoísmo. É desejo de viver.